1- Por que a obesidade é tão comum entre esses pacientes e por que é importante evitá-la?
A principal causa da obesidade na criança com síndrome de Down é o desequilíbrio entre a quantidade de alimento ofertado à criança e o seu gasto energético. As crianças com síndrome de Down apresentam hipotonia, ou seja, são mais ‘molinhas’ e tendem a gastar menos energia que as outras crianças por ficarem mais tempo em inatividade. Algumas apresentam um atraso maior para a deambulação e muitas apresentam dificuldade para correr e outras atividades físicas, porém isso varia muito de criança para criança, tanto por características individuais como pela estimulação que recebe. Ademais, quando existe hipotireoidismo e isso não é diagnosticado, a criança pode ganhar peso rapidamente por desequilíbrio hormonal. A obesidade tem se tornado um dos nossos maiores problemas de saúde pública, por reduzir sua qualidade e expectativa de vida, estando relacionada a doenças crônico-degenerativas como diabetes, hipertensão arterial sistêmica e outras doenças cardiovasculares.
2 - O que os pais podem fazer de modo a controlar o sobrepeso dos filhos por meio da alimentação?
É indicado que a criança tenha uma dieta conforme suas necessidades, recebendo novos alimentos de maneira gradual com o seguimento do peso e da estatura com o pediatra, usando gráficos específicos para crianças com síndrome de Down. Nos dois primeiros ano de vida, a criança conhece novos sabores e adquire hábitos que pode levar para o resto de sua vida, portanto a qualidade e a variedade dos alimentos ofertados nessa fase é muito importante.
O estímulo ao aleitamento materno exclusivo é uma forma de prevenção da obesidade, além de todos os outros benefícios conhecidos do leite materno. O lactente apresenta um mecanismo regulador da quantidade de alimento que realmente necessita, então quando a família oferta alimentos ‘à força’, finda por estimular um consumo além do requerido. Manter uma ambiente domiciliar harmonioso e trabalhar uma relação saudável com o alimento são detalhes indispensáveis para uma boa educação alimentar, que deve ser realizada desde cedo, inclusive mudando hábitos de toda família.
Toda criança precisa de exercícios físicos para proporcionar seu desenvolvimento neuromotor e gerar o hábito da atividade física. Além dos exercícios proporcionados por fisioterapia, terapia ocupacional, natação terapêutica e outras intervenções, atividades familiares tanto domésticas quando ao ar livre geram excelentes resultados.
Muitos alimentos, classificados atualmente como funcionais, apresentam evidências de promoção da saúde, além da nutrição do nosso organismo. Tais alimentos têm mostrado vantagens como coadjuvantes na prevenção de algumas doenças, e é possível que estejam relacionados com nossa longevidade. Cada organismo responde de uma forma diferente, então uma combinação variada de alimentos e inclusão dos alimentos funcionais caracteriza uma ‘dieta funcional’ considerada atualmente a melhor escolha para quaisquer grupos populacionais.
3- Podemos apontar algum grupo de alimentos que deve ser evitado por quem tem essa síndrome?
Segundo Dr. Zan Mustacchi, o nabo e a folha verde de mostarda interferem com o metabolismo da tireóide, devendo ser evitados em pessoas com síndrome de Down. Há algumas evidências que mostram que a criança com síndrome de Down é mais predisposta a hipercarotenemia, uma impregnação na pele pelo pigmento betacaroteno contido em vegetais e frutas amarelos, como o mamão, a cenoura e a abóbora. Sugerimos não evitar sistematicamente esses alimentos, e se houver coloração suspeita na pele denotando excesso do nutriente, evitar os alimentos até melhora, depois reintroduzi-los em menor proporção. Muitas crianças da população geral tem hipercarotenemia, tantas outras são diabéticas ou possuem constipação crônica e tantas outras são alérgicas ao leite ou intolerantes ao glúten, o que nos faz mostrar que a dieta melhor para a criança Down é a melhor para todo mundo, pois é rica em fibras, pobre em açúcar refinado e gordura saturada, variada e muito saudável. Restrições são prescritas caso a criança tenha um problema nutricional particular, tenha ela síndrome de Down ou não.
4 - Alguns pacientes podem ter problemas cardíacos. Neste sentido, como a alimentação pode jogar à favor dessas crianças? Quais alimentos funcionais são interessantes para elas e por quê?
Cerca de 40% das crianças com síndrome de Down apresentam alterações cardíacas. Algumas cardiopatias congênitas se acompanham de dificuldade para ganhar peso e nesses casos, além alimentação enriquecida com leite fortificado é necessário uma suplementação nutricional.
Na síndrome de Down existe um conjunto de anormalidades enzimáticas ainda não totalmente elucidado, e uma necessidade maior de ácido fólico e é possível que alimentos anti-oxidantes e funcionais tenham um papel importante na prevenção do envelhecimento precoce que caracteriza a síndrome.
5 - A constipação, o refluxo gastro-esofágico e a doença celíaca (má absorção do glúten) também são outros sintomas que os pequenos enfrentam. Quais alimentos são indicados para eles nestes casos?
Para melhorar a constipação precisamos de uma dieta rica em fibras, extraídas de alimentos como a linhaça, frutas como laranja, mamão, melancia, pera. O consumo de castanha de caju, castanha do pará e outras nozes costuma ser eficaz, além da aveia, do farelo e do germen de trigo. O consumo de frutas e vegetais além de uma adequada ingestão de líquidos contribuem para melhorar a função intestinal.
Como medida geral, devemos orientar a todos os bebês com síndrome de Down medidas posturais e dietéticas contra o refluxo gastroesofágico. Devem dormir com a cabeceira elevada. A alimentação não deve ser ofertada com a criança deitada ou dormindo, sempre com a cabeceira elevada e a criança só deve ser posta para dormir pelo menos 30 minutos após as refeições. Em muitos casos o leite de vaca aumenta o refluxo e indicamos uma fórmula alternativa de leite de soja. O espessamento do leite com aveia pode ser indicado, pois além de inibir o retorno do leite, ajuda no funcionamento dos intestinos. Para crianças maiores, alimentos como chocolate, alguns chás, café e refrigerantes com xantinas (tipo cola ou guaraná) podem aumentar os episódios de refluxo e devem ter seu consumo moderado ou desaconselhado.
A doença celíaca é mais comum nas crianças com síndrome de Down que na população geral, e ocorre nas pessoas que não toleram alimentos com glúten, resultando em atrofia no intestino delgado e má absorção de nutrientes.Se não houver um diagnóstico, a criança vai cursar com diarréia crônica, distensão abdominal, transtornos emocionais (irritabilidade) e desnutrição além de aumentar a chance de desenvolver doenças auto-imunes como diabetes insulino dependente e tireoidite.Orientamos não introduzir alimentos que contenham glúten nos 6 primeiros meses de vida e que sejam realizados testes periódicos para detecção precoce da doença.
6 - Algumas crianças têm infecções recorrentes nos ouvidos. A alimentação também pode atuar neste caso? Como?
As crianças com síndrome de Down possuem o conduto auditivo mais estreito, curto e retificado, facilitando o acúmulo de secreção no ouvido médio, além disso, os episódios de refluxo gastroesofágico com ou sem engasgos podem contribuir para os processos infecciosos como a deficiência imunológica associada à síndrome.
A postura para alimentar a criança, sempre com a cabeceira elevada, pode prevenir episódios de otite, bem como a exclusão de alimentos relacionados à piora do refluxo e às alergias, caso a criança as apresente.
7 - Quais outros alimentos são indispensáveis na dieta do Down e por quê?
A deficiência de ácido fólico produz anemia megaloblástica. As crianças com síndrome de Down apresentam uma alteração no metabolismo do ácido fólico, com predisposição à deficiência do nutriente. Indicamos o estímulo do consumo de vegetais folhosos escuros, feijões, brócolis, germe de trigo e outros alimentos, como os peixes e sucos cítricos para prevenir sua deficiência.
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