terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

AUTISTAS LIDANDO COM SENTIMENTOS E EMOÇÕES

Ajudando a Criança a Lidar com a Perda e o Luto

Dificilmente atingimos a vida adulta sem atravessarmos a dolorosa experiência de não termos mais ao nosso lado alguém que fez parte da nossa vida compartilhando nossas emoções e alegrias e que fazia parte de nossa rotina.

O desconforto e a perturbação emocional são inevitáveis. A profunda dor que sentimos por essa perda pode persistir por toda uma vida.

A morte de uma criança ainda é mais trágica e traumática porque representa a perda de sonhos a respeito do futuro, de relacionamentos e de experiências que não puderam se concretizar e serem usufruídas.

Para quem lida com uma Vida Especial esse momento pode ser um pouco mais complicado. Pensar em como isso pode refletir em seu Pequeno Aspie durante sua primeira perda pode trazer inseguranças adicionais.

Perguntamos a nós mesmos sobre como falar sobre o assunto com a criança. Saber o que dizer e como dizer, não vem naturalmente. Principalmente quando o adulto já é foco de um turbilhão de emoções variadas.

É provável que a criança não demonstre muitas reações suficientemente discerníveis. Não significando, porém que não haja também uma tempestade de pensamentos e emoções conflitivas no pequeno coraçãozinho da criança. A diferença básica é na forma de externar tais sentimentos e emoções. Compreender o processo do inexistir pode levar muito tempo para ser processado, mesmo quando a perda é de um animalzinho de estimação.

ENTENDENDO O PROCESSO

A capacidade de compreender e processar tudo o que está acontecendo dependerá da idade e do desenvolvimento da criança, bem como do seu grau de comorbidades ou características autísticas tratadas ou não.

À medida que a criança se desenvolve, entender o implacável processo do ciclo da vida se torna um passo importante em seu crescimento pessoal. Perguntas sobre o que acontece na morte e sobre os conceitos relacionados sempre virão de alguma forma. No entanto, nesse caso, mesmo para os pequenos Aspies, essas perguntas não representam necessariamente dúvidas literais sobre o processo da inexistência em si, mas podem estar procurando formar seu próprio conceito sobre o significado da vida. Nesse processo, alguns pontos muito importantes devem ser considerados.

Se a criança ainda não se desenvolveu ao ponto de questionar o sentido da vida uma breve explicação literal sobre o processo do envelhecimento e dos cuidados bem equilibrados com a saúde e a segurança pessoal irão bastar para que a criança comece a voltar ao seu equilíbrio emocional. Evite falar sobre conceitos que não façam sentido para a criança. Se falar de uma maneira equilibrada e de modo que possa evitar maiores questionamentos existenciais, estará adiando de modo saudável tais questionamentos até que ela esteja mais preparada para lidar com essa questão delicada e contribuirá para reequilíbrio emocional mais eficiente.

Se a criança já possui um desenvolvimento mais apurado ou se já for um adolescente o processo incluir alguns cuidados especiais em vista dos sentimentos esperados, como as sensações de culpa, bem como inquietudes que poderão se somar aos sentimentos experimentados. Nesse momento é importante tentar ajudar a criança a entender que a vida tem sim um significado e não uma existência ilógica com um fim frustrante e sem sentido.

O mais importante, seja qual for a idade, é ajudar a criança a se expressar e partilhar seus conflitos e a não ficar acumulando dúvidas e sentimentos negativos.

LIDANDO COM EMOÇÕES ATÍPICAS

Em certos casos a criança pode não processar de modo convencional ou não conseguir “ler” seus próprios sentimentos negativos. Pode não chorar ou mesmo achar que não está se sentido triste. Explique que as sensações e os sentimentos variam de pessoa pra pessoa e que se não houve a construção de laços emocionais seus sentimentos ou a ausência deles não são necessariamente doentios e se a sensação de perda não parece tão dilacerante mostre que o próprio incômodo de não conseguir senti-los já é em si mesmo uma reação esperada e que basta esse sofrimento.

Em outros casos, reações não esperadas podem ocorrer. Procure não criticar nem repreender e demonstre entender se a criança começar a rir ou sorrir. Ela pode estar processando seus sentimentos de maneira descontrolada ou pode estar “viajando na própria mente” a fim de não entrar numa crise de ansiedade, pânico.
Tente não demonstrar tamanha surpresa com a “aparente” frieza até mesmo ao ponto da criança demonstrar interesse em saber sobre aspectos do processo fúnebre como o sepultamento, embalsamento, decomposição ou algo assim. Lembre-se que, para o Aspie, entender o processo pode trazê-lo mais para perto da realidade.

Mesmo que você não tenha as respostas, procure incentivar a criança a se expressar mesmo através de perguntas. Demonstrar que não temos algumas respostas e que não há uma maneira certa ou errada de reagir a algo que não devia acontecer pode ajuda-lo a não ficar mais perturbado do que possa suportar nessa hora tão difícil.

O QUE FAZER

Se for apropriado, incentive a criança a executar alguma tarefa específica durante o processo, como servir água ou algo assim. Isso ajudará a manter um foco em mente e ajudará a manter o equilíbrio.
Se a morte ocorreu devido a uma doença explique que o corpo da pessoa não estava mais funcionando e os médicos não poderia consertar.
Se alguém morre de repente, como em um acidente, você pode explicar o que aconteceu. Que por causa disso o corpo da pessoa parou de funcionar. Poderá explicar que "morrer" ou "morto" significa que o organismo parou de funcionar.
Se em alguma parte do processo achar que não tem condições emocionais de cuidar da criança, peça ajuda a um amigo de confiança.
Uma viagem ou passeio pode ser produtivo.
Fique atento para qualquer sinal de que as crianças precisam de ajuda lidar com uma perda. Se ocorrer mudanças muito acentuadas de comportamento, por exemplo, um jovem sociável e descontraído torna-se irritado, recluso ou extremamente ansioso, não deixe de procurar ajuda.
Explique como será o funeral. Explicar que o corpo da pessoa que morreu estará em um caixão, e que a pessoa não vai ser capaz de falar, ver ou ouvir.
Explique que os outros podem querer falar sobre a pessoa que morreu e que alguns poderão estar chorando.
Lembre-se de explicar qualquer possível alteração na aparência da pessoa.

O QUE NÃO FAZER

Não insista que a criança vá ou não vá ao local do funeral. Se for apropriado, talvez seja produtivo deixá-la tomar sua própria decisão sobre em que aspectos ela queira participar ou não.
Não se isole para chorar ou demonstrar uma reação emotiva. É importante que a criança entenda que toda reação nessa hora pode ser aceitável.
Não procure esconder as emoções. Ajudar a criança a lidar com as emoções é mais produtivo do que tentar protege-las de algo que fará parte de toda a sua vida.
Evite expressões que possam gerar perda de confiança ou equívocos para a criança. Dizer que a pessoa falecida esta dormindo ou descansando pode resultar em medo do sono.

As crianças mais jovens muitas vezes têm dificuldade em entender que todas as pessoas e coisas vivas morrem, e que isso é um final e que não vão voltar. Assim, mesmo depois de ter explicado isso, as crianças podem continuar a perguntar onde a pessoa amada está, ou quando a pessoa vai voltar. Por mais frustrante que isso pode ser, mantenha a calma e repita que a pessoa morreu e não pode voltar.

Observação: A criança Aspie que está tendo problemas sérios com a dor e a perda podem apresentar um ou mais dos seguintes sinais:

Agir de modo mais infantil por um período muito prolongado
Longo período de depressão com perda de interesse nas atividades cotidianas
Persistência em imitar a pessoa falecida
Incapacidade de dormir
Perda de apetite
Medo prolongado de estar sozinho
Recusa de ir à escola
Repetidas declarações de querer juntar-se a pessoa morta
Queda acentuada no desempenho escolar
Isolamento diferenciado além do habitual
Afastamento dos amigos

Se estes sinais persistem, a ajuda profissional pode ser necessária. Um profissional de saúde pode ajudar o jovem Aspie a aceitar a morte e ajudar os outros em ajudar-lhe através do processo de perda.



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